Sindilav

Mai/Jun - 2009 - nº 150

Educação: o desafio da velocidade

Viviane Senna é Presidente do Instituto Ayrton Senna

Viviane Senna é Presidente do Instituto Ayrton Senna

Viviane Senna

Dois séculos. Mais precisamente 247 anos é o tempo que levaria para o ensino público brasileiro alcançar o atual nível de performance escolar dos países desenvolvidos.

O número assusta, mas, para se chegar a ele, basta considerar os atuais índices de aprendizagem dos alunos brasileiros de 8ª série, por exemplo, em Língua Portuguesa, se comparados aos alunos dos países membros da OCD E (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), e a velocidade com que o Brasil vem avançando para reduzir o gap existente entre essas duas realidades.

Mantido o ritmo atual, chegaremos à média dos países da OCDE apenas no ano 2256.

No entanto, a boa notícia é que não precisamos esperar tudo isso. Estudo coordenado pelo economista Ricardo Paes de Barros, do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), e realizado pela equipe do IETS (Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade), demonstra que é possível acelerar, a cada ano, entre duas a oito vezes a atual velocidade brasileira nas taxas de desempenho escolar.

A pesquisa, realizada em 947 municípios (cerca de um quinto das cidades brasileiras), analisou a situação do ensino fundamental dessas cidades, entre 1999 e 2005.

O que Paes de Barros constatou é que, na taxa de aprovação, enquanto o Brasil cresceu, nesse período, 0,5 ponto percentual ao ano, esses municípios andaram 2,8 pontos percentuais, ou seja, foram seis vezes mais velozes que o ritmo anual brasileiro. Isso
significa que, de 99 a 2005, a educação daquelas redes avançou cerca de 30 anos.

Nas taxas de abandono, a velocidade é duplicada, o mesmo acontecendo para as de defasagem entre a idade e a série cursada pelo aluno.

Outro dado importante é que, há seis anos, a taxa de reprovação de 1ª a 4ª série, no País, está estacionada em 13%. A média de redução na reprovação dos 947 municípios é de 1,2 pontos percentuais ao ano, uma considerável melhora em um indicador que o Brasil está patinando sem sair do lugar.

Esses resultados mostram que há saídas para o nosso atraso secular. No caso dos quase mil municípios, a injeção de "combustível de qualidade" para que andassem mais rápido foi realizada por meio de uma verdadeira PPP (Parceria Público-Privada) da educação: prefeitos e governadores assumiram um compromisso de acelerar a qualidade do ensino de suas redes; empresas assumiram a co-responsabilidade em fazer esses municípios avançarem numa questão tão estratégica como a educação; e o terceiro setor deu a sua contribuição por meio da construção de um know how de ponta em educação para ser utilizado em larga escala, em qualquer parte do País.

Essas ações estão focadas não em boas intenções, mas em resultados eficazes, comprovados por uma avaliação externa e de impacto como a pesquisa de Ricardo Paes de Barros e equipe.

O know how construído está traduzido em programas educacionais como Acelera Brasil, Se Liga, Gestão Nota 10 e Circuito Campeão. Soluções que, conforme o estudo relata, comprovam que é possível, assim como Ayrton Senna, acelerar e fazer o Brasil ganhar essa corrida.

Pesquisa disponível no www.senna.org.br – Dados da Prova Brasil 2005, censos escolares MEC/Inep 1999, 2003, 2004, 2005 e 2006.