Sindilav

Mai/Jun - 2008 - nº 144

Os 100 anos de imigração japonesa e as lavanderias

Kumio Oita, destacado por um círculo, alguns dias antes de embarcar para o Brasil.

Kumio Oita, destacado por um círculo, alguns dias antes de embarcar para o Brasil.

Na década de 70, quando se mencionava lavagem profissional de roupas, vinha à mente dos paulistanos a figura do tintureiro japonês. Nessa época, a colônia japonesa detinha 80% do mercado de lavanderias especializadas em limpeza do vestuário. Os japoneses e seus descendentes eram tão importantes nesse segmento que uma das entidades representativas da categoria chegou a ter mais de mil associados, sendo
a grande maioria de origem nipônica.

Essa organização denominada Associação da Indústria de Lavanderia e Tinturaria de São Paulo teve como fundador Hoichi Kato, entre outros imigrantes do Japão. Ele chegou ao Brasil em 1934 para trabalhar em uma fazenda de café no interior do Estado, onde permaneceu por quatro anos. Deslocando-se para a Capital em 1938, abriu a Tinturaria e Química ABC na Praça da Árvore. Com a idade, passou a gestão dos negócios para um de seus nove filhos, Hideo.

Tsutomu Isshiki foi outro ilustre imigrante que se destacou no segmento, mas em projetos de máquinas de lavar roupas. Como tantos outros, ele chegou ao Brasil para trabalhar na lavoura e, depois de algum tempo, mudou-se para a região urbana do Grande ABC paulista. A empresa onde atuava com a família "“ Máquinas Santo André "“ foi condecorada em 1954 pelo prefeito da cidade como a pioneira na fabricação de máquinas de lavar à água.
E a primeira máquina foi projetada por ele.

Em 1957, preparava-se para embarcar ao Brasil a família de Kumio Oita, que iria se tornar um importante empresário de lavanderia. Ele "“ com treze anos de idade – seus pais e sua tia permaneceram durante uma semana em um alojamento lá no Japão até que fossem liberados os atestados de saúde e outros documentos necessários para
a partida. Na ocasião, foi tirada uma foto histórica do grupo que sairia do porto de Yokohama em direção ao porto de Santos. Foi uma longa viagem de 60 dias, que possibilitou ao grupo se tornar uma grande família, sendo que alguns até namoraram e se casaram dentro do navio. Até hoje, muitas dessas pessoas mantêm contato e comemoram os aniversários da imigração japonesa em nosso país.

Alguns meses depois da chegada, o sr. Haruo Oita, pai de Kumio, comprou a Lavanderia Santa Izildinha no bairro de Vila Madalena. Em 1981, já adulto e formado, Kumio montou a Lavanderia San Taio, cuja tradução aproximada é "senhora deusa". Com técnicas artesanais e exclusivas, o empresário consegue recuperar vestidos de noiva
danificados pelos anos, roupas de festa ou caríssimos casacos de pele com os mais variados problemas. Inclusive, um caso famoso lhe valeu uma homenagem do Vaticano: ele recuperou uma indumentária do Papa João XXIII, ornada com fios de ouro, doada por Roma a uma instituição de caridade do sul do Brasil. Apesar de toda manchada e oxidada, Kumio conseguiu um resultado surpreendente.

Estes são apenas três exemplos das inúmeras histórias com final feliz. Os japoneses que fizeram da atividade de lavanderia seu ganha-pão e com ela educaram seus filhos, que se tornaram médicos, engenheiros, advogados e personalidades de sucesso, deixaram lições importantes. Enfrentaram obstáculos e adaptaram-se a uma nova cultura apesar das circunstàncias adversas, empregando toda a força de seu trabalho e sua persistência.