Sindilav

Jan/Fev - 2010 - nº 154

Chuvas em São Paulo

Josef Barat é economista, consultor, presidente do Conselho de Desenvolvimento das Cidades da Fecomercio e foi diretor da Anac.

Josef Barat é economista, consultor, presidente do Conselho de Desenvolvimento das Cidades da Fecomercio e foi diretor da Anac.

O que vem acontecendo na cidade de São Paulo e em boa parte da região Sudeste do país decorre de causas complexas, tanto relacionadas com as mudanças climáticas, quanto com a imprevidência histórica e a falta de planejamento do crescimento urbano e de educação ambiental.

A sociedade como um todo paga um preço muito alto pela imprevidência, o que atinge, como sempre, os mais pobres. As chuvas constantes afetam, principalmente, a mobilidade urbana, o comércio de rua, o sistema hospitalar e o custo da Defesa Civil. É difícil também imaginar a cidade e o país como palco de eventos mundiais, como as grandes Feiras Internacionais, a Fórmula Indy, a Copa do Mundo e as Olimpíadas, com chuvas nesses dias.

Vale lembrar também que é ingênuo por parte das autoridades do país achar que biomas complexos e mantenedores do equilíbrio ambiental em larga escala, como a Amazônia e o Pantanal, pressionados pela exploração desordenada e predatória, não acabem por alterar os regimes de chuvas no Sudeste.

Buscar reiteradamente soluções de Defesa Civil para problemas gerados teimosamente pela falta de planejamento e previsão é, infelizmente, o destino de sociedades que não têm maior apreço por si mesmas. Algumas medidas pontuais podem e devem ser tomadas, como a limpeza sistemática dos córregos, investimentos em drenagem da bacia do rio Tietê e a diminuição da impermeabilização do solo. Vale lembrar também que falta educação ambiental, mostrar para a população, de forma sistemática e educativa, que não se deve jogar lixo nas ruas, nos córregos e nos rios. Infelizmente, a cultura ambiental está longe de ser adquirida.

Além de todo o problema que as chuvas causam à população, ainda temos de focar a questão do crescimento urbano desordenado e mesmo caótico da metrópole paulistana. Este fato nos remete a algumas indagações:

1) Por que não se impuseram limites, em passado remoto e recente, à ocupação predatória do solo urbano e metropolitano, com legislação e fiscalização rigorosas, penalizando pesadamente os infratores?

2) Por que sempre prevaleceu a crônica imprevidência de permitir (e até estimular) as ocupações ilegais de áreas de preservação ambiental, os desmatamentos de encostas, os assoreamentos de rios e córregos e os adensamentos incompatíveis com as infraestruturas de serviços públicos?

3) Por que se permitiu, por décadas, uma lenta e contínua impermeabilização do solo da metrópole, que associada ao desmatamento, ao corte indiscriminado de árvores e à disposição irresponsável do lixo, tornaram-se fatores que transformaram precipitações pluviométricas mais fortes em verdadeiras tragédias?

4) Por que surgem sempre soluções de engenharia que se propõem a solucionar definitivamente os problemas de inundações que, por serem fechadas em si mesmas, não levam em consideração o escopo mais amplo do planejamento sanitário, ambiental e dos recursos hídricos? Por exemplo, por que a construção de "piscinões", sem uma articulação com políticas e programas mais amplos de macro e micro drenagem, sabendo-se que resolvem apenas parcialmente os problemas?

A população anseia por essas respostas.

Josef Barat